acho que a Elisa está apaixonada, mas não sabe. ontem, quando cheguei em casa de noite, ela nem esperou eu sair do carro para me contar, muito faceira, sobre seu novo coleguinha de aula. “ele é tão legal comigo”, “ele ficava só andando atrás de mim”, “eu ajudei ele a fugir da fulana, que queria ficar jogando coisas nele”, “ele fica o tempo todo brincando comigo”… e coisas do tipo, de criança. aí, ela me mostrou que fez um cartão pra dar de presente pra ele, que, inclusive, já estava guardado dentro da mochila para ela não esquecer de levar hoje.
depois ela me contou como ele é, a cor e comprimento dos cabelos, o tom de pele, a cor dos olhos. e hoje cedo, enquanto tomávamos café da manhã, ela quis aprender a escrever o nome dele. enquanto arrumava o lanche dela, fui soletrando e ela escrevendo no cartão, com todo o cuidado do mundo.
até que largou:
– ai, mãe, não sei se isso é sonho ou é verdade.
– o quê?
– isso, e apontou pro desenho. ontem, quando eu te contei dele, era verdade?
– era, sim. tu tá tão feliz que acha que é sonho?
e com um sorriso tímido no rosto, ela me respondeu que ‘sim’. e antes de terminar de comer o cereal, foi logo guardar o cartão na mochila de novo .
eu achei muito fofo, em especial a pureza do sentimento dela.
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tinha esquecido de contar que depois do café, enquanto eu escovava os meus dentes e terminava de me arrumar, ela lembrou de prender o cabelo, passar perfume e batom, pois queria ficar bonita.